domingo, 25 de setembro de 2011

Suicidio entre jovens. O que vem acontecendo com eles?

Aos dezesseis anos de idade Ben Nelson morreu em 24 de setembro de 2010, quando ele cometeu suicídio em um galpão na fazenda da família em Ashton Ontário, Canadá. Os pais compraram a fazenda na esperança de que isso ajudaria no precário estado de espírito do filho após uma tentativa de suicídio no início do ano.
O caso do menino de 10 anos que atirou na professora e em seguida se matou com um tiro na cabeça, entristeceu o Brasil e provavelmente levou muitos pais à reflexão sobre o que vem acontecendo com as nossas crianças e jovens.

Lamento pela profunda tristeza desses pais e pela dor silenciosa dessa criança que se matou.

Infelizmente o suicídio tem sido uma infeliz escolha para a “solução” dos problemas de muitos jovens. Aqui no Canadá, ele é a segunda principal causa de morte entre eles.

Em junho do ano passado, seis jovens se suicidaram em uma pequena cidade no país. As vítimas tinham entre 14 e 20 anos. Nenhum deles se conhecia. Esse fato nos chama a atenção para a complexidade do suicídio, que não se limita a um "tipo" psicológico ou a uma circunstância em particular. O suicídio de jovens continua sendo um enigma enlouquecedor. Muitas famílias ainda estão tentando entender por que seus filhos fizeram essa terrível escolha e o que eles poderiam ter feito para evitá-la.

O início e o final do ano escolar podem ser particularmente vulneráveis para jovens em risco, pelo menos é o que dizem alguns estudos. De acordo com a psicóloga da Universidade de Ottawa Darcy Santor, pelo menos 91% das vítimas de suicídio sofrem de alguma forma de doença mental no momento de suas mortes. O perigo aumenta quando mais fatores de risco estão presentes, como: a vergonha, depressão, ansiedade, abuso de álcool, o bullying, isolamento social e dificuldades de aprendizagem.

Lembro-me de um menino de 11 anos que atendi há alguns anos atrás. Ele tentou se suicidar, pulando do quarto andar da sua escola no dia de uma determinada prova. Felizmente ele não morreu, ficando apenas bastante machucado. Ele me contou que estava nervoso com a prova e que seus pais o pressionavam para ele obter boas notas. A parte mais impressionante do seu relato foi que antes de pular, ele apenas sentiu um enorme desespero e não via outra saída senão morrer.

Afinal, porque as crianças e os adolescentes não batem na nossa porta para pedir ajuda? Porque mantém a sua dor em segredo? Talvez, tenhamos aqui uma resposta: “Nós não falamos isso para os nossos pais, eles não entenderiam”, disse certa vez outro adolescente que conheci. Ele tentou suicídio por duas vezes.

Será que as nossas crianças estão se matando porque estamos indo sentar em silêncio na frente da nossa TV ou do nosso computador e deixando que os nossos filhos se resolvam sozinhos? Esta é uma pergunta intrigante!

No Canadá, muitas pesquisas são realizadas no campo das doenças mentais e em particular, com o tema suicídio. Patrice Corriveau, pesquisador da Universidade de Ottawa, vem analisando e catalogando cada nota de suicídio deixada. Na sua pesquisa, ele voltou no tempo - mais de 100 anos. Isso foi possível, pois na província, uma investigação forense é obrigatória para todos os casos de suicídio. Ele descobriu, por exemplo, que no final de 1800, muito antes de "adolescente" ser uma categoria social reconhecida, os jovens com maior probabilidade de morrer por suicídio eram as meninas solteiras que se encontravam grávidas. Na década de 1930, foram os jovens da Europa, que não conseguiam encontrar a sua fortuna na nova terra ou jovens maridos que perderam suas fortunas e se mataram por vergonha. Com essa pesquisa, pode-se perceber que a atual situação de morte por suicídio entre os nossos jovens é um fenômeno mais recente.

O que vem acontecendo com os nossos jovens?

Muitos pais não percebem o declínio emocional que os seus filhos vêm passando. Já escutei de muitos a seguinte frase: “Nunca percebemos nada, ele(a) era tão tranquilo” O que me parece é que os pais simplesmente não são ensinados sobre o que procurar no comportamento dos seus filhos que dêem indício de uma profunda dor psíquica e do desejo de morte.

Algo que realmente me preocupa, é que as crianças e principalmente os adolescentes, são estigmatizados pela sociedade. No Brasil, os jovens carregam nas costas o infeliz apelido de “aborrecente”. Toda essa carga de rótulos e preconceitos com relação a essa fase da vida tem dificultado a nítida visão do que pode estar acontecendo dentro desse universo juvenil.

Alguns pais não levam a sério o que os filhos estão passando, pois acreditam ser uma fase de angústia da adolescência, mas muitas vezes é uma forma mais profunda de depressão e ansiedade.

Certa vez escutei de uma menina de 13 anos a seguinte frase: "Eu não posso voltar atrás e consertar as coisas." Os adolescentes, assim como as crianças, pensam diferente dos adultos. Para eles, o que existe de mais concreto na vida é o aqui e agora. Falar sobre o futuro pode parecer utópico.

Pesquisas mostram que muitos jovens que se mataram, comentaram com os amigos e parentes, sobre o desejo de suicidar-se e não o fizeram apenas uma vez e sim várias. Foi como um pedido de socorro. Um triste exemplo disso foi o pequeno garoto brasileiro citado no início do texto. Ele disse aos amigos o que iria fazer, mas ninguém levou a sério. Pensaram que era brincadeira.

Em 2001, pesquisadores em Houston entrevistaram 153 jovens entre 15 e 24 anos que haviam sobrevivido a uma tentativa séria de suicídio. Eles foram convidados para estimar a quantidade de tempo entre o momento em que tinham decidido que queriam morrer e quando eles de fato o fizeram. Em 70% dos casos, o tempo foi menor que uma hora. Em 25% foi apenas de cinco minutos.

Um fato que não pode ser desconsiderado é que vivemos em uma sociedade cada vez mais competitiva, com tecnologia de ponta ao nosso alcance, com muita informação, muito mais do que damos conta de assimilar. O mundo está dinâmico e com isso as exigências sociais aumentaram. Precisamos correr se não quisermos “parar no tempo” e com isso, percebemos que muitos jovens não sabem como lidar com a perda, a frustração e a decepção. Não sabem por que não aprenderam, não foram ensinados a relaxar, a se permitir a errar, a descobrir o seu potencial que é individual e único. Precisamos ensinar isso aos nossos filhos!

Gostaria de fazer um pedido a todos os pais: Olhe para os seus filhos, observe que o mundo deles muda de acordo com a idade, respeite cada fase e aprenda coisas novas através de conversas amigáveis, permita que eles sejam únicos. Não deixe para fazer isso amanhã, comece hoje no seu próximo encontro com eles.
Abraços,
Lila

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Cybercrime - Cuidado nunca é demais!

Escrevi este texto a convite da Daniela para o Clube dos pais e mães blogueiros

Foto: Arquivo pessoal
Estamos vivendo uma era em que as amizades virtuais aumentaram mais que as presenciais. As redes de relacionamentos invadem as nossas casas com infinitas possibilidades de curtos diálogos com diferentes pessoas de diversas partes do mundo. Como é bom poder encontrar velhos amigos e fazer novos. Como é interessante poder adentrar em diversos mundos com apenas alguns toques no teclado. Que infinito universo cibernético se apresenta aos nossos olhos. Encantador, não acha? Parece ser fácil e seguro fazer amigos dessa forma, não? Até mesmo porque estamos em nossas casas isentos de riscos que o mundo lá fora nos impõe. Mas apenas parece!

Com essa facilidade tecnológica, somos uma isca fácil para pessoas que nem sempre tem boas intenções. Como é fácil assumirmos uma personalidade que não é a nossa e nos apresentarmos ao mundo virtual sem que ao menos sejamos reconhecidos. Esse tipo de comportamento tem um nome: “fake”. A palavra vem do Inglês, que significa “falso”.

O que é isso?
É uma personalidade falsa usada para ocultar a identidade real de uma pessoa. De uma maneira geral, os fakes são facilmente encontrados em sites de relacionamento (principalmente o Orkut que estatisticamente tem apresentado o maior número de invasão de fakes) e uma das finalidades deles é dar opiniões sem se identificar, evitando constrangimentos ou ameaças pessoais ao opinante, mas sua maior finalidade é ter uma segunda vida. A maioria dos criadores de fakes o fazem só por diversão, para conhecer novas pessoas sem se expor. Porém, esse tipo de comportamento tem se tornado um novo problema social.

Pessoas começam a apresentar distúrbios mentais e psicológicos, levando-os a trocar a vida real pela vida de seus falsos perfis. O que acontece é que o mal uso do fake tem causado dependência nos seus usuários, declinando suas vidas nos aspectos social, emocional e intelectual. Existem relatos de pessoas que criaram um perfil fake, e que o vivenciaram tão intensamente chegando a ter um surto psicótico (quadro clínico se caracteriza pela perda de contato com a realidade). O psicótico pode ter alucinações ou crenças delirantes e exibir alterações de personalidade e desordem de pensamento. Isso pode ser acompanhado por comportamento incomum ou bizarro, assim como dificuldade de interação social e de levar adiante atividades cotidianas. Nesses casos, essas pessoas tentam assumir a vida da outra, “roubando” as suas informações, fotos, amigos, eventos, etc. o que pode ser perigoso.

Como um fake, as pessoas adotam uma nova maneira de viver e com isso elas podem ser quem quiserem e até mesmo cometerem crimes cibernéticos, os chamados Cybercrime, que são: disseminação de vírus que coletam e-mails para venda de mailing; distribuição material pornográfico (em especial infantil); fraudes bancárias; violação de propriedade intelectual e direitos conexos ou mera invasão de sites para deixar mensagens difamatórias como forma de insulto a outras pessoas. Para esse último chamamos de cyberbullying.

O que poucos sabem é que esse tipo de prática já está no código penal brasileiro e é passivel de pena: Art. 307 do Código Penal – Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem. Pena: detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.

Mas infelizmente não é tão fácil localizar e punir um fake, pois eles entram em seu computador e não deixam pistas, quando você vai ver o estrago já está feito. Então, como podemos nos proteger?

Antes de responder a esta pergunta, gostaria de traçar um paralelo entre esses dois mundos (o virtual e o real). Se pararmos para pensar e nos questionarmos sobre o que nos motivou e continua nos motivando, a estar mais tempo dentro de casa conectados a internet fazendo amigos virtuais, chegaremos a algumas prováveis respostas: a violência nas ruas, a falta de segurança para os filhos, a crescente influencia para o consumo de drogas e alcool, a criminalidade em suas infinitas versões e muito mais. Por medo do que poderia acontecer lá fora, achamos um “lugar seguro”: dentro de casa e dentro dos nossos computadores.

Certa vez, escutei da mãe de um jovem de 18 anos que era melhor ele ficar em casa na internet do que na rua correndo risco de vida. Bem, essa parece ser a nossa atual realidade social: Ficamos em nossas casas para nos “proteger do mundo lá fora”, mas este mundo veio ao nosso encontro.

Diante desses fatos, precisamos ficar atentos e termos atitudes preventivas, mas não devemos ficar nervosos, ansiosos ou mesmo cancelar as nossas contas em sites, grupos, blogs, etc. Abaixo, cito algumas pequenas coisas que podemos fazer para evitar surpresas desagradáveis na net.

Dicas:
- Quando você se cadastrar em sites de relacionamentos (Orkut, facebook, etc.) procure se vincular a grupos ou a pessoas conhecidas ou amigas. Não aceite pessoas que não conheça, pois os hackers adicionam as vitimas, pois assim eles conseguem todas as informações necessárias como, e-mail, data de nascimento, etc.
- Use as configurações de segurança dos seus sites. Navegue sempre em modo seguro usando: https://, nunca apenas http:// (sem o “s”). Em geral quando você usa o modo de segurança, aparece um cadeado ao lado do seu site. Isso significa que é mais difícil alguém entrar em sua rede.
- Use as configurações de privacidade. Assim, pessoas que não são amigos não vão conseguir ver fotos ou outras informações suas.
- Evite colocar informações pessoais do tipo: telefone, endereço de casa ou do trabalho, informações sobre os seus filhos (escola, lugares que freqüenta) Muitos sites pedem esse tipo de informação, mas você não é obrigado a informar.
- Ao colocar fotos na net, use assinaturas, como as de marca d’água para personalizá-las e evitar que sejam copiadas.
- Ao postar fotos de seus filhos, evite que os mesmos apareçam despidos ou em situações constrangedoras, pois esse tipo de foto é sempre alvo dos pedófilos e fakes. E não se esqueça de assiná-las ou personalizá-las.
- Tenha bons programas de antivírus no seu computador e use-os frequentemente. No mínimo uma vez por semana.
- Oriente os seus filhos sobre os fakes e seus riscos e sempre supervisione o que eles fazem na net.
- Tenha sempre muito cuidado com o que você posta ou escreve na net, pois isso ficará lá para sempre.

Previna-se e continue aproveitando as maravilhosas oportunidades que esse mundo virtual nos oferece!
Abraços,
Lila