quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Aprenda a tratar bem os seus filhos

 As crianças possuem algo de mágico. Elas são capazes de transformar qualquer coisa em arte, beleza e amor. A espontaneidade é surpreendente e a sinceridade que permeiam as suas ações, mais ainda. Para mim, todas são merecedoras de muito carinho e amor. Mas porque os pais nem sempre tratam bem os seus filhos?
Pare por um momento e observe os pais com seus filhos. Sempre faço isso e vejo cada cena de arrepiar. Certo dia em um shopping da cidade, vi um pai aos berros com uma menina de no máximo cinco anos. Ela queria continuar brincando e estava chorando contrariada por ter que ir embora; a mãe que segurava o braço da menina, quase a arrastava pelos corredores em direção ao elevador, o pai com o dedo em riste e com uma postura corporal que até eu ficaria amedrontada, tentava dar "lições" à filha de como ela deveria se comportar e ressaltava a sua desobediência e teimosa. Que irônico! A menina assustada colocou as mãos nos ouvidos para não ouvir as "doces" palavras vindas dos pais e recusava-se a entrar no elevador com os dois.

O que acontece então com os pais? Eles não amam os seus filhos? Ou não aprenderam a amar direito? Particularmente gosto de uma psicoterapeuta e escritora suíça chamada Alice Miller que escreve sobre abusos sofridos na infância. Sobre esse assunto, ela diz: "Qualquer pessoa que maltrata os filhos foi ela mesma gravemente traumatizada na infância... não há outro motivo para os maus-tratos às crianças senão a repressão das lembranças dos maus-tratos e da confusão sofrida pelo próprio agressor". Então, como um adulto maltratado na infância pode superar as experiências dolorosas e conseguir dar a seus filhos mais amor do que ele mesmo recebeu? Será que essas crianças, ao se tornarem adultas, estão fadadas a reproduzir um ciclo interminável de raiva, agressão e retaliação? Ou existem meios de se interromper esse ciclo e aprender maneiras empáticas e sensíveis de tratar bem os seus pequenos? A boa notícia é que embora os pais que ferem tenham sido eles mesmos feridos na infância, a perpetuação desse modelo não é inevitável. Algumas crianças que foram maltratadas crescem determinadas a dar a seus próprios filhos a infância que não tiveram.

Uma coisa é certa: apenas a vontade de cuidar bem de seus filhos não é suficiente. É preciso antes de tudo se cuidar; saber onde e quais são as suas feridas infantis. Após a tomada de consciência, o segundo passo nessa direção é o adulto aprender a se relacionar com os filhos de um modo diferente, que talvez ele raramente ou nunca tenha presenciado em sua própria infância. Aprender a tratar os filhos com dignidade e respeito é um aprendizado!

O Dr. Elliot Barker, Diretor da Sociedade Canadense para a Prevenção da Crueldade contra as Crianças, recomenda quatro medidas fundamentais para os futuros pais e mães criarem filhos emocionalmente saudáveis, independentemente de quão inadequada tenha sido a sua própria criação.

1) Um bom nascimento: se o pai e a mãe estiverem presentes ao nascimento e essa experiência for boa, é mais provável que os pais se apaixonem por seu bebê. O trabalho duro de cuidar do filho vai parecer bem mais leve, pois os pais estarão encantados com a maravilha que é o seu bebê. A paixão começa ou se renova aí!

2) Amamentar no peito por um período prolongado: A amamentação mantém apaixonada a mãe pelo filho. Amamentar durante meses ou anos contribui para que a relação entre eles sobreviva a tempos difíceis, que de outro modo poderiam causar separação e distanciamento emocional.

3) Períodos mínimos de separação e qualidade no modo de tratar a criança: De acordo com o pediatra William Sears, só os pais estão perfeitamente sintonizados com as necessidades da sua criança. Afastar-se em momentos difíceis priva a criança de seu apoio mais valioso e também priva você de uma oportunidade de fortalecer sua amizade. Os bebês aprendem a suportar suas necessidades insatisfeitas, mas ao custo de um rebaixamento da auto-estima e da capacidade de confiar.

4) Planejar o espaçamento de nascimento entre os filhos: cuidar bem de uma criança de menos de três anos exige de pais bem intencionados uma quantidade enorme de tempo e energia. Planejar o espaçamento entre os filhos é importante para os pais não se exaurirem tentando cumprir a tarefa dificílima de atender às necessidades emocionais de filhos com pouca diferença de idade.

Essas quatro medidas atingem profundamente toda a família. Não só estabelecem a capacidade de amor e confiança do filho como também ajudam os pais a curar as feridas da sua própria infância. Criando um forte vínculo de amor e confiança entre pais e filhos, essas medidas podem deter o ciclo de maus-tratos em uma geração.

Crianças cuidadas com amor, carinho e respeito crescem com a convicção profunda de que é errado ferir outro ser humano. É o desenvolvimento da empatia!

Viver em um ambiente de honestidade, respeito e afeição torna praticamente impossível qualquer pessoa vir a ter impulsos de judiar de alguém mais fraco, pois ela aprendeu desde muito cedo que é correto e bom proteger e ajudar todos os seres. Esse é um aprendizado que ficará gravado em sua mente e em seu corpo e valerá pelo resto de sua vida.

Infelizmente muitos pais ignoram essas quatro medidas fundamentais. Pais agressores, que nunca receberam eles mesmos amor e confiança incondicionais, podem ter dificuldade em encontrar um modo diferente de se relacionar com os próprios filhos. O quê se pode fazer por essas famílias? Muitos estudiosos e cuidadores que se empenham na causa infantil, acreditam que mudanças na legislação poderiam obrigar os pais a "resolver o seu passado" se a lei não permitisse mais que as crianças fossem usadas como bodes expiatórios. Na Escandinávia as leis protegem as crianças dos maus tratos, não só agressão física e abuso sexual, mas também surras e intimidação. Essas leis não implicam em penalidades; elas têm como objetivo despertar a consciência das pessoas para as necessidades e direitos legítimos das crianças.

É comprovado que o ciclo dos maus-tratos pode ser interrompido com o tratamento amoroso das crianças. Faço um pedido àqueles profissionais que atendem a famílias, aos pais e a todos que tenham acesso a crianças abusadas, que enfatizem as quatro medidas de empatia entre pais e filhos, pois enquanto não temos uma mudança na legislação brasileira em prol das crianças, é o mínimo que podemos fazer por elas.

Felizmente a capacidade de amar e confiar, uma vez incutida na criança, passa de geração em geração tão facilmente quanto passam a desconfiança e a crueldade. As feridas cicatrizam e não precisam ser reproduzidas, desde que não sejam ignoradas. É perfeitamente possível estar aberto para a mensagem que nossos filhos nos passam e que pode nos ajudar a nunca mais destruir a vida e sim protegê-la e permitir que ela floresça.

Abraços,
Lila

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Cuidado! Seu filho pode ser vítima de Bullying


Muito provavelmente você já foi alvo de bullying quando era pré-adolescente ou adolescente. Sabe aquele colega chato que não te deixava em paz, mexia nas suas coisas, fazia piada a seu respeito e lhe colocava apelidos depreciativos? pois é, aquele coleguinha era um praticante de bullying.

Bullying é um tipo de comportamento que sempre existiu, e que recentemente foi batizado com este nome. Não existe uma tradução precisa para o português, mas refere-se a todo tipo de comportamento agressivo que ocorre sem nenhuma razão aparente e se caracteriza pelas atitudes agressivas intencionais e recorrentes praticadas por crianças e adolescentes. Esse tipo de comportamento causa nas pessoas que são seu alvo, humilhação, dor, angústia e raiva.

O Bullying começou a ser pesquisado cerca de dez anos atrás na Europa, quando se descobriu o que estava por trás de muitas tentativas de suicídio entre adolescentes. Segundo a Abrapia (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Criança e ao Adolescente)o bullying não está restrito ao tipo de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana.

Com a internet, o Bullying ganha espaço também nas comunidades virtuais aumentando ainda mais o transtorno das vítimas, já que no ambiente virtual os autores da agressão podem manter suas identidades no anonimato.

A prática do Bullying é mais comum entre os meninos, o que não quer dizer que não ocorra entre as meninas. Neste caso, geralmente envolve ações de exclusão e difamação.

"Tudo começa com ofensas, palavras, que nos magoam, até que tudo ultrapassa os limites, daí batem, agridem, roubam, excluem, chegam até a nos ameaçar em casa"(relato de uma vítima de BULLYNG)

O bullying é definido em três termos:

1) O comportamento é agressivo e negativo;
2) O comportamento é executado repetidamente;
3) O comportamento ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.

As ações que costumam estar presentes nessas práticas são: colocar apelidos, ofender, humilhar, discriminar, excluir, intimidar, perseguir, assediar, amedrontar, agredir, bater, roubar ou quebrar pertences, entre outras formas.

"A prática do bullying é uma forma de abuso psicológico, físico e social. É um problema mundial que infelizmente está ganhando campo nas escolas" (Abrapia)

Os sintomas e comportamentos que geralmente aparecem quando uma criança ou adolescente está sendo vítima de Bullying são: depressão, ansiedade, estresse, dores não-especificadas, perda da auto-estima, problemas de relacionamento, abuso de drogas e até suicídio.

Quando o bullying é praticado no ambiente escolar e não há intervenção, todos os alunos são afetados negativamente. Por isso as escolas e as famílias precisam se capacitar para aprender a diagnosticar os sintomas de bullying porque quanto mais cedo houver tratamento, maior a chance de ajudar a vítima e o praticante.

Bem, a primeira dificuldade que os pais e as escolas enfrentam é a de identificar se seu filho/aluno está sendo alvo deste tipo de comportamento, pois a criança ou adolescente que se sente ameaçado, reluta para falar a respeito. Então, fique atento aos seguintes sinais:

Seu filho...
- Demonstra falta de vontade de ir à escola;
- Sente-se mal perto da hora de sair de casa;
- Pede para trocar de escola;
- Pede sempre para ser levado à escola;
- Muda frequentemente o trajeto entre a casa e a escola;
- Apresenta baixo rendimento escolar;
- Volta da escola, repetidamente, com roupas e materiais rasgados;
- Chega muitas vezes em casa com machucados sem explicação convincente;
- Parece angustiado, ansioso e deprimido;
- Tem pesadelos constantes com pedidos de “socorro” ou “me deixa”;
- “Perde” repetidas vezes, seus pertences e dinheiro.

E se o seu filho for um autor de Bullying? O que fazer?

Em primeiro lugar, é preciso conversar. Saiba que ele está precisando de ajuda! Não tente ignorar a situação, mas mantenha a calma. Controlar sua própria agressividade é imprescindível. Mostre que você sabe o que está acontecendo, e procure entendê-lo. Demonstre que o ama, porém deixe claro que você não aprova esse comportamento. Enfatize que isso é errado e que não deve ser repetido. Procure saber o porquê ele está agindo assim. Garanta a ele que você vai ajudá-lo. Estabeleça limites firmes e o encoraje-o a pedir desculpas a quem possa ter agredido,seja pessoalmente ou por carta. Destaque coisas positivas para melhorar a sua auto-estima e procure criar situações em que ele possa se sair bem, elogiando-o sempre quando isso ocorrer.E finalmente, mas não por último, entre em contato com a escola, converse com professores, funcionários e amigos que possam ajudá-lo.
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Fonte: ABRAPIA